sábado, 28 de julho de 2012

Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire




Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire



 Resenha Crítica-Zélia Maria Mirek[1]

Paulo Freire pensa a existência. É um pensador comprometido com a vida. Em seu livro Pedagogia do Oprimido reporta-se aos cinco anos que passou no exílio. Apresenta um papel de conscientização para uma educação realmente libertadora. A prática da liberdade só encontrará adequada expressão numa pedagogia em que oprimido tenha condições de reflexivamente, descobrir-se e conquistar-se como sujeito de sua própria destinação histórica. Em sua escrita ressalta o direito do ser humano, o trabalho livre e a afirmação da pessoa. Algumas contradições se fazem presente, quando relaciona os oprimidos e opressores, quando a violência desumaniza os opressores, passando aos oprimidos a condição de lutar contra quem os fez inferiores. Uma luta que somente tem sentido quando os menores buscam a sua humanidade. “a violência dos opressores, que os faz também desumanizados, não instaura outra vocação - a do ser menos” (p.30).

A Pedagogia do Oprimido apresenta-se como pedagogia do homem. Onde somente ela pode se fazer generosa, verdadeira, humanista e não "humanitarista", tudo para alcançar os objetivos. Diferente da Pedagogia que surge dos interesses pessoas e egoístas dos opressores, disfarçada na falsa generosidade. “Quem, melhor que os oprimidos, encontrarão preparados para entender o significado terrível de uma sociedade opressora?” (p 31).

A pedagogia humanizadora somente será possibilitada, quando houver a união entre teoria e prática. Entre a liderança revolucionária e os que estabelecem uma relação dialógica. Alcançando esta fase busca saber da realidade. Assim a presença dos oprimidos na busca de sua libertação, mais que falsa participação, é o que dever ser: engajamento. “A pedagogia do oprimido que, no fundo, é a pedagogia dos homens empenhando-se na luta por sua libertação, tem suas raízes aí. E tem que ter nos próprios oprimidos, que se saibam ou comecem criticamente a saber-se oprimidos, um dos seus sujeitos.”(p.40)

A situação concreta de opressão e os opressores, é que os opressores de ontem não se reconhecem em libertação. “Pelo contrário, vão sentir-se como se realmente estivessem sendo oprimidos” (p.44). Esta violência passa de geração a geração, tornando-se legatários e formando o clima geral.

Na situação concreta de opressão e os oprimidos, “há em certo momento da experiência existencial dos oprimidos, uma irresistível atração pelo opressor”. Pelos seus padrões de vida. Participar destes padrões constitui uma incontida aspiração. Na sua alienação querem, a todo custo, parecer com o opressor. Imitá-lo. Segui-lo. Isto se verifica, sobretudo, nos oprimidos de “classe média”, cujo anseio é ser iguais ao “homem ilustre” da chamada “classe superior”. (p.49).

Ninguém liberta ninguém, ninguém liberta sozinho: Os homens se libertam em comunhão e “somente quando os oprimidos descobrem, nitidamente, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua “convivência” com o regime opressor” (p.52). O movimento para a liberdade deve surgir a partir dos próprios oprimidos, e a pedagogia decorrente será a que tem forjado e esteja inserida na luta incessante de recuperação de sua humanidade.

Em uma critica a concepção “bancária” da educação como instrumento da opressão, Paulo Freira escreve que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em “vasilhas”, em recipientes a serem enchidos pelo educador (p.57). A doação manifesta nos instrumentais de ideologia da opressão a pura absolutização da ignorância, que se constitui da alienação da ignorância. E na concepção problematizadora e libertadora da educação, Freire aponta que a ”A educação “bancária”, em cuja prática se dá a inconciliação educador- educandos rechaça o companheirismo. Na educação bancária o educador é sempre o que sabe, enquanto os educandos serão os que não sabem. A rigidez destas posições nega a educação e o conhecimento como processo de busca. E é lógico que seja assim. No momento em que o educador “bancário” vivesse a superação da contradição já não seria mais “bancário”(p.68).

Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo, “em verdade, não seria possível à educação problematizadora, que rompe com os esquemas verticais característicos da educação bancária, realizar-se como prática da liberdade, sem superar a contradição entre o educador e os educandos. Como também não lhe seria possível fazê-lo fora do diálogo” (p.68). Em outro momento Paulo Freire escreve que educar é impregnar de sentido o que fizemos a cada instante. E aí estamos diante de uma educação prática de liberdade e talvez de uma nova escola. Uma escola com proposta de atingir as necessidades e interesses dos alunos, formando um homem contemporâneo dispostos a aprender, a conhecer, a descobrir, formando adultos que façam a mediação do conhecimento, oportunizando, além da aprendizagem cognitiva, tornar as relações sociais importantes estruturando uma personalidade saudável. Neste sentido é importante perceber que Freire introduz o conceito de consciência, como exercício intencional de compreensão da realidade.

“A concepção e a prática “bancárias”, imobilistas, “fixistas”, terminam por desconhecer os homens como seres históricos, enquanto a problematizadora parte exatamente do caráter histórico e da historicidade dos homens” (p 72), com uma necessidade de educação permanente para transformar a realidade, devendo então mudar as relações dentro da escola e a forma os conteúdos e as práticas são desenvolvidas no espaço escolar.

A necessidade de rever a educação e a forma como ocorre o diálogo entre os envolvidos, pois não há diálogo sem um profundo amor ao mundo e aos homens. Não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato de criação e recriação, se não há amor que a infunda.

Neste ponto, Freire (p.83) aponta que a “a inquietação em torno do conteúdo do diálogo é a inquietação em torno do conteúdo programático da educação”. Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou uma imposição – um conjunto de informes a ser depositado nos educandos -, mas a devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada. Educar neste momento é desejar avançar, colocar-se em movimento de abertura ao novo, para as dúvidas, para o novo saber.

A falta de uma compreensão crítica para captar em “pedaços nos quais não reconhecem a interação constituinte da mesma totalidade” (p.95), considerando sempre a evolução do homem. Contudo, o papel da Escola precisa ser constantemente repensado; ela precisa se reposicionar frente ao dinâmico e complexo sistema de valores de uma sociedade. É sabido que a educação deve ser norteada pelo foco na aprendizagem, no "aluno" e seu contexto.

Na investigação temática, que se dá no domínio do humano e não no das coisas, não pode reduzir-se a um ato mecânico (p.100). Faz necessário investigar e rever as visões da realidade, ou seja, a totalidade, instituindo o tema gerador. È o pensar da própria condição de existir para investigar a temática, trabalhando em equipes interdisciplinares, observando os pontos fixados pelos vários investigadores encontrando as situações limites que envolvem o tema. A investigação da temática envolve investigação do próprio pensar. Pensar que não se dá fora dos homens, nem num homem só, nem no vazio, mas nos homens e entre os homens, e sempre referidos a realidade. O método Paulo Freire não ensina a repetir aquilo que já existe. Seu método coloca o alfabetizando em condições de poder existir criticamente as palavras de seu mundo, para na oportunidade devida, saber e poder dizer a sua palavra.

E quando “não é possível o diálogo com as massas populares antes da chegada ao poder, porque falta a elas experiência do diálogo, também não lhes é possível chegar ao poder, porque lhes falta igualmente experiência dele” (p.134). Para Freire vale para a palavra o mesmo que para a realidade: a dimensão da ação e a dimensão da reflexão, sem dimensão da ação tem-se o verbalismo, sem a reflexão o ativismo. A palavra é ato libertador, controlá-la sobre palavra-mundo, torna a chave essencial de domínio dos mecanismos de poder.

Neste sentido, a conquista crescente do oprimido pelo opressor aparece como um traço marcante da ação antidialógica e sendo a ação libertadora dialógica em si, não pode ser o diálogo uma a posteriori seu, mas um concomitante dela. Mas, como os homens estarão sempre se libertando, o diálogo se torna um permanente da ação libertadora, com o desejo de conquista, maior que o próprio desejo. “A necessidade da conquista acompanha a ação antidialógica em todos os seus momentos”.

Nesse ponto, a solidariedade nasce no testemunho que a liderança dá ao povo, no encontro humilde, amoroso e corajoso. Nem todos tem a mesma coragem, porém, na medida em que, as minorias, submetendo as a maiorias a seu domínio, as oprimem, dividi-las e mantê-las divididas são condição indispensável à continuidade de seu poder.

Toda a ação cultural é sempre uma forma “sistematizada e deliberada de ação que incide sobre a estrutura social, ora no sentido de mantê-la como está ou mais ou menos como está, ora no de transformá-la” (p. 183), para que “finalmente, a invasão cultural, na teoria antidialógica da ação, sirva de manipulação que, por sua vez, serve à conquista e esta à dominação, enquanto a síntese serve à organização e sesta à libertação”.



Conclusão

O trabalho de Paulo Freire, em Pedagogia do Oprimido, pode ser visto como um processo de conscientização, um tema que leva em consideração a natureza política da educação. O autor adverte que vivemos em uma sociedade onde se destacam os opressores e os oprimidos, situação que precisa ser modificada e cada sujeito deve buscar a superação de seus problemas com criatividade.

Para o autor, o objetivo da educação deveria ser a liberdade, que resultaria na transformação social e no conhecimento crítico do mundo, fazendo ressaltar o direito do ser humano, a liberdade ao trabalho e a afirmação das pessoas. E quando se trata jovens e adultos, estes devem ter a consciência de que é possível mudar, deixando de ser oprimidos e passando a serem agentes transformadores.

Ao ressaltar a educação “bancária”, percebe-se a manipulação de pensamentos com um único objetivo oprimir. E ao afirmar que “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho’, ele quer dizer que os indivíduos não são caixas onde se deposita conhecimentos, mas sim uns seres que podem recriar e transformar o mundo com o seu novo conhecimento”.

Bibliografia

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 26ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.



[1] Professora de Contabilidade. Coordenadora do Curso de Ciências Contábeis- IESA-Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo-Acadêmica de Licenciatura em Pedagogia a Distância LPD - UFPEL Polo Cerro Largo Endereço eletrônico -. zeliamirek@via-rs.net

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